Por Juliano Arcuri
O Escotismo tem a visão de ser o maior movimento de jovens do mundo. Dentro de um método educativo centenário, ao mesmo tempo atual e relevante, ele tem como propósito educar o jovem para a vida. O movimento se reinventou e ultrapassou guerras e catástrofes. Nesse momento de pandemia de COVID-19, infelizmente, estamos mais uma vez em crise.
Em um mesmo caminho, nosso público-alvo, o jovem, se encontra em uma situação igualmente difícil. Nesse momento em que há pressão social pelo retorno da normalidade, ele enfrenta decisões complicadas como escolher entre sair ou não sair de casa para cada uma das situações cotidianas: ajudar os pais com compras e outros afazeres, visitar amigos e familiares, e nos últimos meses, ir à escola. Com o evoluir da situação pandêmica, essas decisões vão ficar menos previsíveis, mais complexas e fluidas.
O problema é que os mecanismos de suporte desses jovens, nem sempre tem ajudado a deixá-lo mais autônomo e responsável por suas decisões. Isso porque a autonomia depende de um entendimento amplo das consequências, e as fontes de informação (redes sociais, mídias, e mesmo as famílias) têm se tornado cada vez mais pessoais e acaloradas. O que isso quer dizer?
Cada decisão que tomamos levam a consequências, algumas mais prováveis, outras menos prováveis. As vantagens, desvantagens e riscos devem ser avaliados para cada uma dessas decisões. O problema é que em um ambiente “acalorado de opiniões pessoais” o foco está nas consequências extremas, dificultando sabermos o que é mais provável.
Um exemplo: Durante a tarde, tive dor de cabeça, e preciso decidir se tomo ou não tomo remédio.
Tomar Remédio | Não Tomar Remédio | |||||
Riscos | Desvantagens | Vantagens | Vantagens | Desvantagens | Riscos | |
Automedicação Alergias | Reações do remédio (Ex. sonolência) | Alívio mais rápido que me permite voltar logo às minhas atividades | Focar na causa (Ex. melhorar alimentação e sono, diminuir horas no computador. | Tempo para melhora | -Não fazer as entregas do dia -Não ser bem visto por deixar de fazer algo que todos fazem |
Em tempos de opiniões pessoais acaloradas, as mídias focam nos riscos extremos, pois eles são mais sensacionalistas: Ex. “jovem que toma remédio de dor de cabeça tem reação alérgica e morre antes de chegar ao hospital” ou ainda “Jovem perdeu o emprego pois pediu tempo de descanso no trabalho, longe do computador”. Apesar de importantes, as consequências mais extremas não devem ser as únicas a serem consideradas na tomada de decisão.
Caminhos mais prováveis e menos extremos também precisam ser visitados, por exemplo, eu começar a tomar mais remédio do que deveria e precisar de apoio de profissional de saúde para deixar de tomá-los. Conhecer tanto os extremos, quanto os prováveis são importantes para a tomada de decisão, e isso não tem sido ofertado aos jovens nas discussões de whatsapp e nas redes sociais, grande parte da interação nesse período.
Outra questão é que se olhamos essa decisão com um olhar de “é isso OU aquilo”, perdemos a oportunidade de ver que “eu posso tomar remédio hoje, e TAMBÉM melhorar minha alimentação e sono para não precisar mais disso”.
e pensarmos mais nas coisas serem isso E aquilo”
Para ajudar nesses momentos, considere algumas questões:
- O que é mais provável acontecer se eu fizer o que estou pensando?
- O que é menos provável acontecer, mas que ainda sim pode acontecer?
- Eu tenho formas de amenizar o risco de algo que não quero acontecer?
- Fazer isso fere algum dos meus valores?
- Isso que estou considerando é contra as regras ou leis? Estou disposto a falar publicamente que fiz isso?
- Isso está de acordo com o meu projeto de vida?
O Escotismo desde sempre, mesmo que empiricamente, é um local onde os jovens discutiam entre os amigos, orientados por adultos, para compreender melhor seu contexto e tomar melhores decisões. Infelizmente estamos fragilizados com a pandemia, mas ainda com plenas possibilidades de cumprir com nosso papel social “Educar para a vida”, inclusive para essa nova vida de pandemia.
O plano Transformar para Crescer não poderia vir em melhor hora, quando precisamos nos fortalecer e encontrar novas formas de aplicar nosso método e com isso educar os jovens para novas questões de vida.