Por Ingrid Janaina da Silva Foresto e Juliano Ferreira Arcuri
O Escotismo é um lugar em que nós, voluntários, muitas vezes, fazemos amigos que levamos por toda a vida. Infelizmente, com a pandemia, alguns desses grandes amigos “partiram para o grande acampamento”, como costumamos dizer. Não só a morte de pessoas queridas mas a mudança brusca da rotina, desemprego, problemas financeiros, distanciamento social, tudo isso leva a sensação de perda, e ela, quando muito intensa, traz o luto.
O luto tira tudo do lugar. De um minuto para o outro, o mundo que conhecemos não é mais familiar. É preciso tempo, compreensão e muita empatia para conseguirmos elaborar um processo de perda. A passagem de um ente querido é devastadora. Você voluntário, perdeu alguém querido durante a pandemia? Se sim, pode ter até vivenciado a dificuldade em abraçar e ser abraçado ou homenagear a pessoa querida. Isso tudo torna o luto mais difícil, não é mesmo?
A ausência da possibilidade de despedida torna o caminho de quem perdeu alguém muito mais solitário e difícil. É um duplo luto que nos é imposto, para mantermos o distanciamento e salvar vidas, perdemos não só a pessoa, mas também a oportunidade de fazer aquilo que estamos acostumados a fazer para se despedir de alguém que morre.
Uma alternativa válida é criar novas ações e formas de, simbolicamente, estabelecer um sentido e homenagear a história e o vínculo que se tem com a pessoa que se foi. Reunir familiares e amigos por meio de plataformas digitais é um caminho.
Um estudioso do assunto, o psiquiatra britânico Colin Parkes ressalta que o luto é o “preço do amor”. Segundo ele, se existe luto é porque a pessoa criou “vínculos, trocas, afeto, histórias de vida compartilhadas”. Nossos entes podem ter se extinguido fisicamente, mas continuam tendo morada interna em nossas lembranças, no legado deixado por eles.
Se é você quem perdeu alguém
Em primeiro lugar, todos nós Escoteiros sentimos muito, você estar triste também nos deixa tristes. Com certeza você já escutou isso e parece clichê, mas a única coisa que importa agora é cuidar bem de você e isso envolve os cuidados com seu corpo, sono, alimentação e também sentimentos. Cada luto é único e você tem o direito de viver o seu do seu jeito. Chorar, escrever e falar sobre a pessoa amada, ligar para quem você sente que pode te amparar ou querer viver sua dor em silêncio, tudo isso é possível. Vale contar a parentes e amigos e, claro, nós irmãos escoteiros, como você prefere lidar com o luto.
Atenção a crianças e adolescentes
Não siga com a vida familiar como se nada de terrível tivesse acontecido entre vocês. Converse com as crianças sobre o ocorrido, crie formas para que elas possam participar da despedida à distância e depois dê espaço para que elas possam expressar seus sentimentos.
Se houver alguma transmissão online, pergunte se elas desejam acompanhar. Elas podem escrever uma carta para ser lida ou colocada no caixão. Os adultos podem contar como foi a cerimônia presencial. Para famílias religiosas, proponha pequenos rituais em casa.
Estamos em luto coletivo
Você pode estar pensando: não perdi ninguém mas me sinto perdido. David Kessler, um dos maiores especialistas em luto do mundo, disse que o desconforto que estamos sentindo é uma reação de luto. Tudo que conhecíamos mudou e, mesmo sem ter perdido alguém é normal ter um sentimento de perda (da liberdade, do trabalho, da segurança econômica, dos eventos cancelados e outros) e estar sentindo medo, ansiedade e tristeza.
Por isso, mais uma vez recomendamos: tenha uma rede de apoio (amigos, familiares, irmãos escoteiros, entre outros), se cuide e mantenha contato constante com esta rede. O momento não é fácil e não podemos nos iludir do contrário, mas lembre-se, são os laços fortes que vão nos manter vivos e com saúde. Mesmo à distância, devemos sempre estar aqui um para o outro, afinal, o escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros e estamos nos transformando para crescer, não só como instituição, mas também como pessoas, sempre alerta para acolher a dor do outro.