Centenário do Escotismo em Rio Claro 1917 – 2017

 


Texto: Alexandre Banchi – GE Santa Cruz
A história da implantação do escotismo em Rio Claro inicia-se no ano de 1917 com formalização de uma reunião realizada às dezoito horas do dia 29 de outubro numa das salas do 2º Grupo Escolar (atual Escola Municipal Marcello Schmidt) promovida pelos diretores das escolas Prof. Armando Bayeux da Silva e Prof. Antonio Sebastião da Silva.

Participaram desta reunião, além dos diretores escolares, o Coronel Marcello Schmidt, Dr. Almeida Prado Junior, José R. Almeida Junior, Agislau Nocite, Eduardo de Almeida Prado, Dr. Joaquim Teixeira Junior, Dr. Eliezer Arouche de Toledo, Olavo Quintella, Eduardo de Moraes, Major João H. de Oliveira Garcia, Architielinio Santos, Ernesto Napoleão Sette, Antonio Alves Cruz, José Pinto Nunes, Pedro da Fonseca, Fernando Leite Junior e o representante do Jornal “Correio Paulistano” da capital, Capitão Eduardo de Moraes.

Assumiu a presidência da reunião o Dr. Joaquim Teixeira Junior e secretariou o Sr. Pedro da Fonseca que expôs aos presentes na reunião através de leitura sobre as instruções referentes ao escotismo, sendo depois feita a eleição da diretoria do primeiro núcleo escoteiro em Rio Claro e ao final da reunião, o Prof. Antonio S. da Silva leu um breve trabalho seu referindo-se aos fins da associação e os deveres do escoteiro.

Nesse período, a expansão do escotismo brasileiro, reconhecidamente iniciado em 1910 na capital federal Rio de Janeiro e que havia surgido oficialmente no estado de São Paulo em 29 de novembro de 1914 com a fundação da Associação Brasileira de Escoteiros, estava em franco desenvolvimento e agora contando com o apoio governamental do Estado de São Paulo.

A influência da pedagogia da escola de Baden-Powell, fundador do movimento escoteiro na Inglaterra no início do século XX e a preocupação com a formação dos novos cidadãos paulistas, fez com que a Diretoria Geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo aplicasse o programa do escotismo nas escolas oficiais de todo o território paulista.

Através desta ação governamental, os diretores escolares Prof. Armando Bayeux da Silva e Prof. Antonio Sebastião da Silva participaram durante o mês de junho de 1917 do “1º Congresso Escoteiro” realizado na capital sob a organização da Associação Brasileira de Escoteiros em que foram difundidos amplamente os princípios e propósitos do movimento escoteiro aos inspetores de alunos e diretores dos grupos escolares do estado bandeirante.

Após a participação dos citados diretores escolares, iniciam-se a formação do primeiro núcleo escoteiro no município com a fundação da “Comissão Regional de Escoteiros de Rio Claro”, que elegeram no dia 29 de outubro de 1917 a primeira diretoria, que ficou assim constituída:

• Presidente: Coronel Marcello Nery de Sá Lobato Schmidt;

• 1º Vice-Presidente: Dr. Joaquim Teixeira Júnior;

• 2º Vice-Presidente: Agislau Nocite;

• 1º Secretário: Pedro da Fonseca;

• 2º Secretário: Fernando Leite Júnior;

• Tesoureiro: Eduardo de Moraes;

• Vogais: José R. de Almeida Santos Filho, Major Ignácio Mesquita, Eduardo de Almeida Prado, Dr. Avelino Chaves e Dr. Eliezer Arouche de Toledo.

As atividades técnicas com os primeiros escoteiros se iniciaram no ano letivo de 1918 na Escola Profissional, atual Escola Técnica Estadual Prof. Armando Bayeux da Silva.

Escoteiros na Escola Industrial em 1918*
Escoteiros na Escola Industrial em 1918*

Neste período estava sendo propagado por todo o estado através da Diretoria da Instrução Pública como atividade complementar nas escolas públicas através da Lei Estadual nº 1579, e nas décadas seguintes funcionavam núcleos escoteiros em praticamente todas as escolas oficiais da cidade.

No ano de 1922, no município de Rio Claro durante as cerimônias do centenário da Independência do Brasil, cerca de 950 escoteiros dos Grupos Escolares da cidade participaram das comemorações alusivas a data. Os escoteiros do 1º Grupo Escolar (Coronel Joaquim Salles), 2º Grupo Escolar (Cel. Marcello Schmidt), Escola Profissional (Escola Técnica Armando Bayeux da Silva), Escolas Reunidas do Quilombo, São Vicente, além de unidades nos distritos da época: Ipojuca (Ipeúna), Corumbataí, Santa Gertrudes e Itirapina se reuniram para participarem de um grande desfile cívico sob o comando do Tenente Souza Filho segundo os registros da época. Há também registros de um Corpo de Escoteiros nesta mesma época no Instituto Comercial de Rio Claro (Escola Bilac) que se fez presente nas festividades.

Escoteiros nas comemorações do Centenário da Independência em 1922
Escoteiros nas comemorações do Centenário da Independência em 1922

Também encontramos os escoteiros rio-clarenses em fotos da reinauguração do Mercado Municipal e na inauguração da nova Igreja Matriz de São João Batista em 1926.

Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, os escoteiros escolares participaram como estafetas e em outros serviços auxiliares sob a coordenação da Associação Comercial de Rio Claro; na participação em campanhas para angariar metais velhos para a fundição de material bélico, além de materiais e equipamentos de sapa (pás, picaretas, cavadeiras, machados, etc.) para a entrega as tropas de combate.

Em 1933, através de Decreto Estadual, é criado a Associação Escolar de Escoteiros novamente sob a orientação técnica da Associação Brasileira de Escoteiros, dividindo a organização dos escoteiros em seis regiões, estando a cidade de Rio Claro inserido na 5ª Região que compreende os municípios pertencentes às Delegacias Escolares de São Carlos, Jaboticabal, Rio Claro, Piracicaba, Araraquara e São José do Rio Preto, sendo identificados todos os escoteiros e escoteiras pelo uso do lenço na cor amarela.

Escoteiros e Escoteiras do 3º Grupo Escolar (Escola Irineu Penteado) em 1934
Escoteiros e Escoteiras do 3º Grupo Escolar (Escola Irineu Penteado) em 1934

Fazia parte desta reestruturação do programa da Associação Escolar de Escoteiros a implantação de campos de férias aos alunos-escoteiros que anualmente tinham como destino a viagem as cidades turísticas de Lindóia e Serra Negra e outras cidades do litoral paulista. Os escoteiros e escoteiras também participavam de excursões em outras cidades e concentrações cívicas na capital e cidades vizinhas.

Desfile dos Escoteiros e Escoteiras em 1936 na Avenida 1
Desfile dos Escoteiros e Escoteiras em 1936 na Avenida 1

A estatização do método de Baden-Powell perdurou até o final da década de 1930, quando o escotismo foi transferido gradativamente para o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo em 1938 e posteriormente encampado pela Federação Paulista de Escoteiros fundada oficialmente em 30 de outubro de 1940 e agora filiada à União dos Escoteiros do Brasil (UEB).

A partir de 1950, com a reforma do estatuto nacional dos escoteiros, são extintas as federações estaduais e de modalidades de escotismo e criadas as Regiões Escoteiras, que vigoram até o presente.

Jornal O Alpha – 10/07/1922
Jornal O Alpha – 10/07/1922
Anúncio Jornal O Alpha - 1922
Anúncio Jornal O Alpha – 1922

Na dependência estatal para o desenvolvimento das atividades escoteiras que estavam vinculadas com a comissão paga aos professores e instrutores diplomados pela Escola de Chefes dirigidos pela Associação Brasileira de Escoteiros, aos poucos os registros de atividades de escotismo na cidade diminuem, situação semelhante ocorrida em todos os Grupos Escolares do estado de São Paulo.


Novo impulso das atividades escoteiras na cidade

Em reunião realizada no Grupo Ginástico Rio-clarense no ano de 1955 é fundado a Associação de Escoteiros de Rio Claro, depois denominada Associação Escoteira “Marechal Rondon” e finalmente Grupo Escoteiro Marechal Rondon que inicia a prática escoteira desvinculada totalmente do projeto estatal, recebendo então o numeral 41º da Região Escoteira de São Paulo.

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Desfile Cívico do GE Marechal Rondon em 1957 – Avenida 5
Desfile Cívico do GE Marechal Rondon em 1957 – Avenida 5

No ano seguinte, em 1956 se instala a primeira unidade feminina de escotismo, através do movimento das bandeirantes, já que na nova estrutura de organização nacional, a independência associativa da prática escoteira é dirigida agora pela União dos Escoteiros do Brasil para o escotismo masculino e pela Federação das Bandeirantes do Brasil para a prática do escotismo feminino. Após quatro anos de atividades, as Bandeirantes de Rio Claro encerram as atividades.

Nos anos de 1957 e 1958 surgiram Grupos Escoteiros nas Escolas Estaduais “Indaiá” e “Irineu Penteado” sempre com a iniciativa da diretoria da unidade escolar, mas tiveram vida efêmera devido às dificuldades em manter os adultos envolvidos na condução da parte técnica.

As primeiras Bandeirantes no antigo campo do Velo Clube em 1956
As primeiras Bandeirantes no antigo campo do Velo Clube em 1956

A instalação em 1964 do Distrito Escoteiro de Rio Claro impulsionou o desenvolvimento do escotismo, uma vez que o Conselho Local do Distrito era composto por membros dos diversos segmentos da sociedade e o resultado foi a fundação de novas unidades na cidade e oficialmente em 09 de junho de 1965 é reconhecido pela União dos Escoteiros do Brasil, o Conselho Local de Escoteiros – 375º Distrito Escoteiro Rio Claro, atualmente 26º Distrito Escoteiro com importante trabalho de divulgação do movimento escoteiro junto à comunidade rio-clarense e cidades vizinhas promovido pelos dirigentes do Grupo Escoteiro Marechal Rondon em anos anteriores.

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Atividade do GE Santa Cruz em 1976 no Largo da Paróquia
Atividade do GE Santa Cruz em 1976 no Largo da Paróquia

Como consequência, então se registra a fundação de outras seis unidades escoteiras na cidade, mesmo antes da formalização da criação do Distrito Escoteiro. Assim temos além do “Marechal Rondon”, os seguintes núcleos escoteiros: Grupo Escoteiro do Ar “14-Bis” – 55º/SP em 1964 – no bairro do Estádio e que fazia atividades técnicas da modalidade do ar no Aeroclube; Grupo Escoteiro “Curumim” – 79º/SP, no Ginásio Koelle em 1965, somente para lobinhos; Grupo Escoteiro “Leão XIII” – 77º/SP em 1965, na Capela de Santo Antonio – Vila Paulista; Grupo Escoteiro “Edmundo Navarro de Andrade” em 1965, na Cidade Nova; Grupo Escoteiro “Santa Cruz” – 174º/SP em 1965, no bairro de mesmo nome e Grupo Escoteiro “Rio Claro” – 82º/SP em 1966 junto à 1ª Igreja Presbiteriana na área central da cidade.

Na década de 1970 persistiram somente os Grupos Escoteiros Marechal Rondon, Santa Cruz e Rio Claro que funcionavam de acordo com a estrutura da UEB e orientados pelo nível distrital, e em 1972 é fundada novamente uma unidade do movimento feminino com a criação do “Distrito Bandeirante Indaiá” composto inicialmente pelas esposas e filhas dos integrantes do Grupo Escoteiro Santa Cruz e que se instalaram por vários anos no coro da Igreja Matriz do bairro. Em 1978 devido à falta de chefia, o Grupo Escoteiro Rio Claro encerra suas atividades.

Na década seguinte o escotismo brasileiro inicia definitivamente o processo de “co-educação” que consistia na presença feminina juvenil nos Grupos Escoteiros e em 1984 é autorizada pela direção nacional da UEB a realização das cerimônias de promessas das lobinhas e escoteiras no Grupo Escoteiro Santa Cruz que se torna uma das primeiras unidades do Brasil na adoção da novidade. E em 1986 o Grupo Escoteiro Marechal Rondon também inicia o processo; este procedimento também é adotado pela coordenação nacional da Federação de Bandeirantes do Brasil, mas com a presença dos meninos que se tornam bandeirantes nos anos seguintes.

No inicio de 1990 o Grupo Escoteiro Marechal Rondon se destaca na competição nacional de radioamadorismo conhecido como JOTA – Jamboree On The Air e no intercâmbio com as bandeirantes (girl guides) do Reino Unido. Em meados desta década, o Distrito Bandeirante Indaiá encerra suas atividades sendo sucedido pelo atual “Núcleo Bandeirante Cidade Azul” localizado atualmente na Praça Victoria Bonini na Rua 3-A, com Avenida 44-A – Jardim Ipê.

As unidades escoteiras da cidade possuem sede própria e estão completas para oferecer o programa dos Escoteiros do Brasil e contam com o reconhecimento público com a entrega anual da “Medalha de Mérito Escoteiro” aos membros juvenis e adultos, oferecido pela Câmara Municipal de Rio Claro através do Decreto Legislativo 446/2012.

Atividade comemorativa do Centenário Mundial do Escotismo em 2007 – Jardim Público
Atividade comemorativa do Centenário Mundial do Escotismo em 2007 – Jardim Público

Encabeçando as diretorias das unidades locais estão Ricardo Gobbi e Silva no Grupo Escoteiro Marechal Rondon e Paulo Cesar Barbanera no Grupo Escoteiro Santa Cruz; e, Marina Nuñes Chiode como Comissária Distrital das cidades de Rio Claro, Araras, Leme, Pirassununga, Analândia, São Carlos, Araraquara, Corumbataí, Motuca, Itápolis e Matão que compreendem o 26º Distrito Escoteiro da Região São Paulo.

Encontramos os escoteiros em atividades na cidade sempre aos sábados no 174º/SP Grupo Escoteiro Santa Cruz, localizado na Rua 6, 3739 entre as Avenidas 52 e 56 Altos do Santana e no 41º/SP Grupo Escoteiro Marechal Rondon na Rua 13, 44 Bairro do Estádio com Avenida 25.

Para comemorar a data centenária a Prefeitura Municipal de Rio Claro através de Requerimento da Câmara Municipal assinado pelos vereadores André Luis de Godoy e Maria do Carmo Guilherme emitiu o Decreto 10.935 de 20 de outubro de 2017 para a instalação do monumento comemorativo a data. A inauguração será realizada no dia 15 de novembro de 2017 na Praça da Liberdade, centro da cidade com a participação da comunidade rio-clarense.

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Fontes de Pesquisa:

• Jornal “Correio Paulistano” – edição 19509 – 30/10/1917. São Paulo-SP
• Jornal “O Alpha” – 1922. Rio Claro-SP
• Livro de Atas do Distrito Escoteiro de Rio Claro – 1964-1984.
• História do Escotismo Brasileiro: Volume I – Tomo I – 1910-1924 – Os primórdios do escotismo no Brasil. – Almirante Bernard David Blower, Rio de Janeiro, 1994.
• Decretos, Actos, Comunicados, Estatutos e Regulamentos. Associação Escolar de Escoteiros do Estado de São Paulo, 1ª edição, São Paulo, 1934.
• A Sociedade de Educação de São Paulo: Embates no campo educacional (1922-1931). Ana Clara Bortoleto Nery, São Paulo, 2008.
• 90 anos dos Escoteiros em Rio Claro, Alexandre Banchi. Rio Claro, 2008.
• Escoteiros de São Paulo – 1914-2014. Alexandre Banchi. São Paulo, 2014.

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