Por Amanda Guimarães Martins
Uma das grandes dificuldades que abateram o escotismo durante os tempos de pandemia está relacionada ao engajamento dos jovens em atividades on-line, não estamos falando apenas da exaustão mental relacionada às atividades virtuais. Mais jovens do que se imaginava não conseguiram manter contato com suas Unidades Escoteiras Locais por falta de acesso contínuo à internet ou a dispositivos móveis e computadores em geral, não só para participar dessas atividades mas de tantas outras que precisavam ser feitas com esses dispositivos. Nós sabemos que muitas UELs estão retornando, mas algumas outras ou até mesmo algumas famílias ainda não se sentem seguras para retornar e preferem esperar mais um tempo.
Tais situações levantam a questão: o que fazer para manter o jovem conectado com sua UEL como participante ativo de sua equipe (patrulha, matilha, clã) sem acesso à meios de comunicação móveis? Isso é possível?
O problema é a internet?
Nem sempre. Apesar de o lugar-comum do imaginário dos adultos quanto ao afastamento dos jovens ser a falta de conexão à internet, muitas vezes o problema não é ausência completa de conexão e dispositivos, mas pouco tempo de uso dos mesmos por diversos fatores, dentre eles o compartilhamento dos mesmos com outros membros do núcleo familiar, a pouca frequência de internet e ou a falta de autonomia de uso. Tendo isso em mente, possíveis soluções podem ser sugeridas, principalmente as que são relacionadas a tarefas de execução analógica, mas que contem com entrega online rápida. Faremos uma listagem abrangente de possibilidades, para termos opções para as mais variadas situações possíveis.
Vamos imaginar como era nos tempos de B-P
Martin Luther King Jr. fala em um ponto de sua carreira, que, se queremos avançar, devemos olhar para trás. As bases do escotismo foram construídas em um mundo completamente analógico, e as experiências foram tão bem-sucedidas que, mais de 100 anos depois da fundação do Movimento Escoteiro, ainda estamos aqui, firmes e fortes. Sem WhatsApp, Facebook ou e-mail. Então vamos nos perguntar: Como os escoteiros se comunicavam durante as férias, por exemplo? E como podemos reproduzir tais meios de comunicação enquanto praticamos distanciamento social? Recados por meio de contatos familiares (mães, amigas ou famílias vizinhas, por exemplo) ou contato telefônico (ligações, não mensagens de texto!) são duas opções possíveis; outra são recados por meio do ambiente escolar, onde jovens já podem voltar a se ver, considerando que alguns escoteiros estudam juntos.
Sistema de Patrulhas, uma grande ajuda para praticar o escotismo fora da sede
Colocar todo o peso da comunicação nos ombros dos escotistas nem sempre funciona. Utilizar o sistema de patrulhas sempre é uma boa ideia; é para isso que ele foi criado! Quando se consegue contato com um monitor, por exemplo, confiar que ele faça a distribuição de informações de maneira analógica pode ser um bom desafio. Não para todas as atividades, é claro, mas contar com membros de patrulha que são vizinhos e podem redistribuir algum material; instrução ou carta-prego nunca é uma má ideia.
Kit atividade
Outra opção possível para praticar o escotismo fora da sede seria a montagem de um kit atividade para aquele mês escoteiro, com a possibilidade de troca de atividades, por exemplo: no mês 1, a chefia criou uma caixa de atividades com uma carta-prego, instruções para fogueira e alguns materiais essenciais, instruções de orientação e algo relativo a um feriado especial (como 7 de setembro). A atividade relativa à carta-prego pode ser diferente para cada membro da patrulha, para que todos os resultados possam ser anexados um ao outro e redistribuídos na caixa do mês seguinte, para manter o sentimento de unidade. Ou quem sabe mandar algo pelo correio – é claro, nem sempre: o escoteiro é econômico! Quando um lobinho já recebeu carta endereçada diretamente a ele?
Na dúvida pergunte ao jovem!
Nenhuma das opções anteriores atende às necessidades do seu grupo? Não tem problema! Que tal fazer um jogo democrático com os jovens que têm acesso on-line pedindo e pensando em conjunto formas de se fazer um escotismo fora da sede, que não seja virtual? Muitas vezes, eles podem (e vão!) pensar em sugestões que nós, adultos, nem consideraríamos sozinhos. Ideias inovadoras podem surgir, como por exemplo: uma Tropa Sênior onde a maioria dos jovens moram no mesmo bairro pode tentar fazer chegar um recado por meio de um jogo, utilizando barreiras para fazer uma mensagem chegar a outro jovem, deixando recados na padaria, pedindo pra algum vizinho não-escoteiro passar mensagem para outro, e outro, até que a mensagem chegar na pessoa final, como um telefone sem fio comunitário e que respeita o distanciamento social!
Família escoteira unida, permanece unida
Que tal fazer da família sua própria seção, com chefes e jovens? Envolver a comunidade escoteira é parte essencial de uma UEL bem estabelecida. Em momentos onde o contato constante é difícil, que tal sugerir uma atividade onde jovens e responsáveis possam aproveitar os benefícios de uma atividade escoteira, com todos agindo em conjunto, como seu próprio grupo? É uma ótima oportunidade para os jovens exercitarem suas habilidades de liderança e guiarem seus pais em jogos e aprendizados que eles mesmos já tiveram enquanto participavam de atividades escoteiras (presenciais ou não!), além de ser uma ótima oportunidade de aproximação familiar.
Criando propostas individualizadas para praticar o escotismo fora da sede
Por último, também devemos considerar, como escotistas, a individualidade de cada caso, considerando pensar em propostas individualizadas que possam servir a um jovem em específico, quando a situação pedir. Tais propostas podem ser complementares a tarefas feitas por outro membro de sua equipe; ou ainda, podem ser feitas propostas paralelas, que culminem em uma exposição ou mosaico. Por exemplo: digamos que cada jovem monte um elemento de campo (abrigo natural, pioneiria, fogueira) em sua própria casa. Quando a chefia recebe os resultados dessa experiência, monta-se uma exposição para ser enviada (física ou digitalmente) para todos os outros membros da equipe, criando aquela sensação de união escoteira que todos nós conhecemos tão bem!
Nestes momentos, você também pode pedir auxílio a escotistas do mesmo ramo que sejam de grupos do seu distrito ou também ao Coordenador Distrital do Ramo ao qual você pertence. Com realidades próximas, vocês podem se ajudar muito, deixando o escotismo atrativo mesmo nestes momentos difíceis.
O importante, em tempos difíceis, é sorrir nas dificuldades e deixar a criatividade correr solta, sem nunca se esquecer: você não está sozinho para pensar em soluções!
O seu Grupo Escoteiro está se planejando para retornar às atividades? Confira os nossos textos falando sobre “Como fazer um plano de retorno” e “Como comunicar o retorno às atividades presenciais”.