As ciências biológicas definem como protocooperação uma relação ecológica em que duas espécies diferentes são beneficiadas, ainda que a interação não seja indispensável para a sobrevivência de ambas.
Algo parecido acontece entre os Escoteiros do Brasil – Região de São Paulo e a Floresta Nacional (Flona) de Ipanema, mantida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A parceria estabelecida há um ano segue gerando frutos para os dois lados. Um exemplo claro foi a primeira capacitação para realização de atividades escoteiras no local, que aconteceu no último fim de semana (dias 27 e 28 de janeiro). Ao todo foram 38 participantes, entre escotistas, dirigentes e profissionais escoteiros, abrangendo 18 unidades escoteiras estado.
O objetivo do curso foi mostrar as potencialidades e as regras de bom uso do espaço, que se trata de uma Unidade de Conservação, para que integrantes do Movimento Escoteiro possam desenvolver atividades típicas do programa educativo utilizando da melhor forma possível toda estrutura oferecida. Todos os escotistas e dirigentes que estiveram presentes foram credenciados para levar seus grupos escoteiros gratuitamente para realizar acampamentos, trilhas e cursos, entre outras atividades.
Para Isabela Baleeiro Curado, voluntária escoteira na função de prefeita do Centro Escoteiro Ipanema, a capacitação foi um marco importante: “Foi um espaço interessante para o Movimento Escoteiro sinalizar para a Floresta Nacional de Ipanema como a gente pode ser parceiro”. Apesar de muitas atividades escoteiras já acontecerem no local, era necessário mudar a lógica de relacionamento para que as programações estivessem cada vez mais vinculadas ao objetivo da própria Flona.
Rafael Ferreira Costa, chefe da Floresta Nacional de Ipanema, considerou o curso positivo por ir ao encontro do objetivo da unidade, que é gerar educação ambiental de qualidade naquele território. “Dos grupos de visita organizados, além das escolas, os escoteiros são nosso maior público”, disse.
Por isso, era importante estabelecer algumas práticas, parte delas orientadas pelo Plano de Manejo da Flona de Ipanema, que visam a preservação da unidade. Não é possível extrair qualquer tipo de bambu ou fazer fogueiras, por exemplo. “Ficou muito claro, tudo mundo entendeu e até concordou”, afirmou Rafael. Ele completou dizendo que a troca com escotistas permitiu a eles entender melhor como as atividades definidas podem acontecer.
“Tivemos participação bastante intensa. Foi uma primeira experiência que a gente pretende repetir, inclusive aprimorando as próximas”, comentou Maria Helena Antuniassi, responsável do ICMBio pela definição dos conteúdos ministrados.
Entre os temas abordados, havia explicações sobre a estrutura do Instituto e do Sistema Nacional de Unidades Conservação (SNUC), além de apresentações de projetos específicos como o Guardiões da Floresta, que visa a recuperação florestal, e do projeto Jataí, cujo objetivo é a proteção de abelhas sem ferrão da espécie de mesmo nome. Essas e outras iniciativas podem ser aproveitadas pelo Escotismo no desenvolvimento de habilidades para que jovens tirem especialidades.
Ao final da capacitação, na tarde de domingo, os cursantes foram divididos em quatro grupos para fazer o exercício de elaborar programações de atividades escoteiras tendo em mente os equipamentos e recursos da Floresta que haviam conhecido no dia anterior. Em conjunto, ficou combinado que as propostas vão compor um banco de programação, centralizado no Escritório Regional, que ficará disponível para grupos que utilizarem o Centro Escoteiro futuramente e que também poderão adicionar novas sugestões. Em troca do espaço e do apoio para a realização das atividades, escoteiros poderão ajudar a Flona com ações como limpeza e sinalização de trilhas, ou até mesmo com voluntariado em futuros projetos do ICMBio.